sábado, 24 de abril de 2010

Histeria coletiva da caça às bruxas


Embalados pelo frenesi da Inquisição, muitos países incluíram a bruxaria na lista de crimes contra o Estado. A caça às bruxas intensificou-se e fez vítimas como a alemã Walpurga Hausmanin, uma viúva idosa que ganhava a vida como curandeira no vilarejo de Dillingen, no sul do país. Em 1587, seus antigos clientes e amigos a acusaram de matar bebês e dizimar os animais da aldeia (uma simples fofoca mandava pessoas ao calabouço). Walpurga foi presa e levada ao tribunal. Isolada do mundo exterior, não tinha direito a nenhum tipo de defesa. Os juízes examinavam o corpo das vítimas em busca de “marcas do Diabo” – verrugas, sinais de nascença ou simples cicatrizes. Acorrentada e espancada, Walpurga confessou: seus poderes eram dádivas de Satanás. Marcada com ferro em brasa, foi queimada viva em praça pública. Por mais de 200 anos, houve muitas Walpurgas. Pessoas de todas as idades juravam ter visto sabás e muitos admitiam ter participado das orgias. O fanatismo religioso fazia a maioria da população acreditar que o Diabo estava à solta.
Será possível entender racionalmente essa maluquice? Há algumas explicações, nenhuma delas plenamente satisfatória. A mais tradicional vem da psicologia, que classifica a perseguição às bruxas como um período de histeria coletiva, doença caracterizada pela falta de controle sobre atos e emoções. Parece algo muito esquisito? Sim, mas pode rolar até nas sociedades mais liberais. Alguns estudiosos defendem que foi justamente isso o que aconteceu nos EUA da década de 1950, época da paranóia anticomunista – não por acaso, também chamada de “caça às bruxas”. “O medo dos comunistas era tão grande que qualquer intelectual virava suspeito de espionar para a União Soviética”, diz o historiador inglês Nigel Cawthorne em seu livro Witch Hunt (“Caça às Bruxas”, sem tradução no Brasil).
Mas o pânico social não justifica totalmente as descrições detalhadas de vôos noturnos, lobisomens e bailes satânicos. A loucura em massa talvez possa ser explicada pela própria massa – não a humana, mas a do pão. Parece louco, mas é simples: entre os séculos 15 e 17, o principal alimento da dieta européia era o pão feito à base de centeio. Em climas chuvosos e úmidos, como em boa parte da Europa, era comum que os depósitos de centeio fossem atacados por um fungo conhecido como Claviceps purpurea. O Claviceps é um velho conhecido dos viajandões: ele contém um alcalóide chamado ergotamina, que em 1943 foi usado em laboratórios americanos para produzir o LSD. Se essa explicação for correta, dá para concluir que grande parte das pessoas envolvidas no massacre às bruxas poderia estar literalmente delirando, em estado de transe, falando sozinha ou descrevendo visões psicodélicas. Ver assombrações demoníacas e outras cenas seria compatível com esse quadro alucinado de alteração química.

Nenhum comentário:

Postar um comentário