sábado, 24 de abril de 2010

Bruxas por trás da caça...


Entre os séculos 15 e 17, a Europa estava infestada de bruxas. Disfarçadas e infiltradas entre os bons cristãos, elas adoravam o Diabo em segredo, promoviam rituais malignos e lançavam feitiços e maldições com a ajuda do chefe dos demônios. Na calada da noite, roubavam bebês recém-nascidos e os esquartejavam antes de receber o batismo. Depois, ferviam os corpos mutilados num caldeirão para fabricar venenos e poções mágicas. Quando ofendidas, lançavam maldições terríveis: podiam invocar tempestades e chuvas de granizo, matar pessoas com um simples olhar e transformar suas vítimas em sapos, ratos ou cobras. Nas noites de sexta-feira, as adoradoras de Satanás montavam em vassouras ou cadeiras enfeitiçadas e voavam para o sabá – na superstição medieval, uma espécie de missa satânica realizada em florestas ou montanhas desertas. Nessa noitada diabólica, as bruxas se entregavam a uma maratona de pecados e blasfêmias. Empanturravam-se em banquetes canibalescos, cujo cardápio incluía corações de crianças e carne de homens enforcados. Engatavam orgias onde todas as perversões sexuais imagináveis eram permitidas e encorajadas. Às vezes, o coisa-ruim em pessoa entrava na farra, dançando e amando suas servas na forma de bode preto, gato gigante ou homem-monstro, com 7 chifres na cabeça e um enorme pênis ereto, todo coberto de espinhos.





Os delirantes relatos acima vêm de livros como Martelo das Feiticeiras (1487) e o Quadro da Inconstância dos Anjos Malvados e Demônios (1612), manuais usados para caçar, prender e exterminar as “agentes de Satã”. Durante séculos, esses livros foram levados a sério – e a crença nas bruxas não era vista como superstição, mas artigo de fé. “Acreditar em bruxas é uma parte essencial da doutrina cristã. Duvidar de sua existência é uma grave heresia contra a Santa Igreja”, afirmavam o monge alemão Heinrich Kraemer e o padre suíço James Sprenger, autores de Martelo das Feiticeiras.

Na época de Kraemer e Sprenger, a crença na bruxaria era tão forte que desencadeou uma das perseguições mais brutais que o Ocidente já viu. A caça às bruxas, que atingiu o ápice entre os séculos 15 e 17, foi um capítulo sinistro na transição do mundo medieval para o período moderno. Durante cerca de 400 anos, os governos laicos e as autoridades religiosas da Europa prenderam, torturaram e assassinaram uma multidão de pessoas pelo crime de feitiçaria. Como os registros oficiais da época são muitos confusos, o número exato de vítimas é até hoje um mistério. Alguns historiadores sugerem um total de 200 mil mortos, enquanto outros falam até em 9 milhões. Quase todos eram mulheres, em geral camponesas miseráveis, que viviam sozinhas em pequenos casebres às margens das aldeias. Para sobreviver, elas atuavam como curandeiras, fazendo feitiços, simpatias e remédios naturais. Esse verniz de simplicidade e sofrimento torna ainda mais intrigante o mistério que nenhuma das teorias consegue explicar direito: afinal, por que raios as pessoas começaram a ver naquelas tiazinhas inofensivas bruxas voando em vassouras e dançando peladonas com o Diabo? Para entender isso, precisamos voltar ao início da civilização ocidental e responder a uma outra pergunta: o que é uma bruxa?


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